segunda-feira, 20 de julho de 2020

Entrevista para a HIKARI 2018


#daserietesourinhossonhadores 



Sabemos que para ti a educação para a cidadania global, a saúde e a participação das crianças têm uma grande importância. Como chegaste a estes interesses?



Desde criança, ainda não sabia eu o que era um projeto, ativismo ou direitos humanos, que me lembro de passar horas e horas a pensar e desenhar nas últimas páginas dos cadernos da escola, as minhas soluções para cuidar dos animais abandonados, da poluição, das guerras e a ter reacções de indignação e revolta à hora de jantar e de televisionar quando via notícias sobre as injustiças do mundo.

Era uma criança sonhadora, muito preocupada com as coisas muito sérias que estavam a acontecer no mundo e não sabia ou tinha um sítio onde me dirigir e dar as minhas ideias “fabulásticas”, arregaçar as mangas e fazer parte da solução.

Estes pensamentos e quereres foram-me guiando na procura de ferramentas que me permitissem agir e nesta caminhada fui descobrindo o voluntariado na área social, educação e, mais tarde, na saúde com a Enfermagem.

1º “Mas” a minha criança adulta ainda não estava satisfeita só com o agir, porque olhava para trás, para o sentimento de impotência da criança, e ainda não tinha encontrado respostas para lhe dar.

Foi aí que surgiu a educação para a cidadania global como forma de contribuir ativamente para o despertar e capacitar de outros seres S,M ou L a: conhecer os seus direitos, o que está a acontecer no mundo, como podemos participar, pensar criticamente em como queremos participar e porquê.

Então, depois de ter a perspectiva de participante, decidi que queria estar do outro lado e também semear e multiplicar.
2º “Mas” ainda não estava satisfeita.

Na nossa cultura do “tempo é dinheiro”, existem as pressas e urgências, o tudo-para-ontem, a correria e o atropelo, o estarmos sempre atrasados para chegar, fazer, ser qualquer coisa. Todo este ruído arrasta-nos pela corrente e a esquecermos a necessidade do nosso corpo e mente de serem cuidados. De dar espaço ao ser e não só ao fazer.

No meio desta saga de aventuras, em que todos somos superhomens/supermulheres/superhumanos, tomei consciência de que também eu era gente e precisava de me cuidar para manter os meus superpoderes activados. Neste caminho procurei (e encontrei) o Yoga e a Meditação. 

Mais uma vez a minha criança interior achou que o giro seria ter conhecido estas práticas há mais tempo e que talvez não fosse nada má ideia incluir esta ferramenta no meu trabalho.

Foi assim comecei a dar aulas de Yoga e Meditação-Mindfulness para Crianças.

Estas são aulas onde se contam histórias, brinca, faz jogos enquanto se aprendem posturas, técnicas de respiração, de meditação e de relaxamento. Usualmente cada aula tem um tema condutor que pode ir desde: as emoções, valores, as estações… São aulas que me dão um gozo enorme a preparar porque tenho a possibilidade de ser bastante criativa.

O Yoga para crianças apresentou-se como uma ferramenta muito completa para permitir e “provocar” o desenvolvimento e equilíbrio físico-emocional-mental da criança respeitando a sua energia e indo ao encontro dos seus interesses e necessidades.
3º “Mas” mesmo tendo yogis saudáveis que conhecem os seus direitos, têm capacidade crítica e que querem agir, ainda faltam: oportunidades e apoios para a participação, que a sua participação seja considerada importante e que os seus contributos sejam incluídos nas tomadas de decisão. Ou seja, faz falta que nas salas de aula, escolas, serviços de saúde, comunidades exista um espaço para participação das crianças.

Neste sentido procurei por ferramentas de criação e gestão de processos participativos, como a educação não-formal e o dragon dreaming que permitissem que crianças e educadores possam expressar os seus sonhos, quereres e sentirem-se envolvidos e motivados para os materializar num projecto transformando os espaços (de aprendizagem ou comunitários) em espaços seus. Estas são ferramentas que aplico nas sessões e aulas e estou desejosa de dar o próximo passo levando-as a estruturas como escolas e unidades de saúde.



De que forma é que estas áreas tomam forma no teu trabalho? 
Através de:

- Formações de Educação em Cidadania Global, Educação para a Saúde, Participação das Crianças e Jovens dirigidas crianças, jovens e educadores

- Aulas de Yoga e Meditação para Crianças, Jovens e Adultos



Em termos de Educação, o que achas que era importante implementar nas escolas?



Considero que os currículos escolares deveriam dar mais enfoque ao desenvolvimento de competências e menos à aquisição de conhecimento massiva; que a educação para a cidadania global deveria ter lugar cativo no menu curricular e que na escola deveria haver espaço para a participação de todos na dinâmica escolar, tanto educadores como crianças/jovens.

Que melhor “laboratório” do que a escola para o desenvolvimento de uma cidadania activa, promovendo oportunidades de aprendizagem e participação em ambiente seguro?!



Numa era em que existe um crescente interesse pelo yoga e meditação e provas do seu impacto no desenvolvimento infantil, a inclusão destes horizontalmente pelos currículos escolares também considero ser uma aposta ganha.



A mim apaixona-me pensar na educação como um processo divertido em que se estimulam o desenvolvimento de competências como o auto-conhecimento, o pensamento crítico, a empatia, o trabalho de equipa, a curiosidade, a criatividade e formas de expressão para promover o desenvolvimento do nosso genuíno potencial, facilitando a descoberta de nós mesmos e de como nos relacionamos com o outro e com o mundo.

Crianças e crianças adultas (educadores) precisam igualmente de um pouco de “playfulness” na rotina escolar. Precisamos da vertente lúdica e de uma conexão genuína com o espaço-escola, pelo que esta possibilidade de participar e de ter maior autonomia na tomada de decisão, cria sinergias, oportunidades para se desenvolverem e expressarem as suas identidades e estimula o sentido de comunidade.

Mas “I'm not young enough to know everything”, como dizia Oscar Wilde.



Qual é o impacto que procuras ter?

Contribuir para a criação de uma sociedade que se defina como planetária, desenvolvendo um trabalho conjunto para enfrentar os desafios de criar e viver num mundo onde os Direitos Humanos são uma realidade universal e onde a relação com o planeta e seus recursos é baseada no respeito e sustentabilidade.

Diana Silva

Enfermeira, Facilitadora em Cidadania Global, Participação das Crianças e Professora de Yoga e Meditação

30 anos