#daserietesourinhossonhadores
Sabemos que para ti a
educação para a cidadania global, a saúde e a participação das crianças têm uma
grande importância. Como chegaste a estes interesses?
Desde criança, ainda não sabia eu
o que era um projeto, ativismo ou direitos humanos, que me lembro de passar
horas e horas a pensar e desenhar nas últimas páginas dos cadernos da escola,
as minhas soluções para cuidar dos animais abandonados, da poluição, das
guerras e a ter reacções de indignação e revolta à hora de jantar e de
televisionar quando via notícias sobre as injustiças do mundo.
Era uma criança sonhadora, muito
preocupada com as coisas muito sérias que estavam a acontecer no mundo e não
sabia ou tinha um sítio onde me dirigir e dar as minhas ideias “fabulásticas”,
arregaçar as mangas e fazer parte da solução.
Estes pensamentos e quereres
foram-me guiando na procura de ferramentas que me permitissem agir e nesta
caminhada fui descobrindo o voluntariado na área social, educação e, mais
tarde, na saúde com a Enfermagem.
1º “Mas” a minha criança adulta
ainda não estava satisfeita só com o agir, porque olhava para trás, para o
sentimento de impotência da criança, e ainda não tinha encontrado respostas
para lhe dar.
Foi aí que surgiu a educação para a cidadania global como
forma de contribuir ativamente para o despertar e capacitar de outros seres S,M
ou L a: conhecer os seus direitos, o que está a acontecer no mundo, como
podemos participar, pensar criticamente em como queremos participar e porquê.
Então, depois de ter a perspectiva
de participante, decidi que queria estar do outro lado e também semear e
multiplicar.
2º “Mas” ainda não estava satisfeita.
2º “Mas” ainda não estava satisfeita.
Na nossa cultura do “tempo é
dinheiro”, existem as pressas e urgências, o tudo-para-ontem, a correria e o
atropelo, o estarmos sempre atrasados para chegar, fazer, ser qualquer coisa.
Todo este ruído arrasta-nos pela corrente e a esquecermos a necessidade do
nosso corpo e mente de serem cuidados. De dar espaço ao ser e não só ao fazer.
No meio desta saga de aventuras, em
que todos somos superhomens/supermulheres/superhumanos, tomei consciência de
que também eu era gente e precisava de me cuidar para manter os meus
superpoderes activados. Neste caminho procurei (e encontrei) o Yoga e a
Meditação.
Mais uma vez a minha criança
interior achou que o giro seria ter conhecido estas práticas há mais tempo e
que talvez não fosse nada má ideia incluir esta ferramenta no meu trabalho.
Foi assim comecei a dar aulas de Yoga e Meditação-Mindfulness para Crianças.
Estas são aulas onde se contam
histórias, brinca, faz jogos enquanto se aprendem posturas, técnicas de
respiração, de meditação e de relaxamento. Usualmente cada aula tem um tema
condutor que pode ir desde: as emoções, valores, as estações… São aulas que me
dão um gozo enorme a preparar porque tenho a possibilidade de ser bastante
criativa.
O Yoga para crianças
apresentou-se como uma ferramenta muito completa para permitir e “provocar” o
desenvolvimento e equilíbrio físico-emocional-mental da criança respeitando a
sua energia e indo ao encontro dos seus interesses e necessidades.
3º “Mas” mesmo tendo yogis saudáveis que conhecem os seus direitos, têm capacidade crítica e que querem agir, ainda faltam: oportunidades e apoios para a participação, que a sua participação seja considerada importante e que os seus contributos sejam incluídos nas tomadas de decisão. Ou seja, faz falta que nas salas de aula, escolas, serviços de saúde, comunidades exista um espaço para participação das crianças.
3º “Mas” mesmo tendo yogis saudáveis que conhecem os seus direitos, têm capacidade crítica e que querem agir, ainda faltam: oportunidades e apoios para a participação, que a sua participação seja considerada importante e que os seus contributos sejam incluídos nas tomadas de decisão. Ou seja, faz falta que nas salas de aula, escolas, serviços de saúde, comunidades exista um espaço para participação das crianças.
Neste sentido procurei por
ferramentas de criação e gestão de processos participativos, como a educação
não-formal e o dragon dreaming que permitissem que crianças e educadores possam
expressar os seus sonhos, quereres e sentirem-se envolvidos e motivados para os
materializar num projecto transformando os espaços (de aprendizagem ou
comunitários) em espaços seus. Estas são ferramentas que aplico nas sessões e
aulas e estou desejosa de dar o próximo passo levando-as a estruturas como
escolas e unidades de saúde.
De que forma é que
estas áreas tomam forma no teu trabalho?
Através de:
Através de:
- Formações de Educação em
Cidadania Global, Educação para a Saúde, Participação das Crianças e Jovens dirigidas
crianças, jovens e educadores
- Aulas de Yoga e Meditação para
Crianças, Jovens e Adultos
Em termos de
Educação, o que achas que era importante implementar nas escolas?
Considero que os currículos escolares deveriam dar mais
enfoque ao desenvolvimento de competências e menos à aquisição de conhecimento
massiva; que a educação para a cidadania global deveria ter lugar cativo no
menu curricular e que na escola deveria haver espaço para a participação de
todos na dinâmica escolar, tanto educadores como crianças/jovens.
Que melhor “laboratório” do que a escola para o
desenvolvimento de uma cidadania activa, promovendo oportunidades de
aprendizagem e participação em ambiente seguro?!
Numa era em que existe um crescente interesse pelo yoga e meditação
e provas do seu impacto no desenvolvimento infantil, a inclusão destes
horizontalmente pelos currículos escolares também considero ser uma aposta
ganha.
A mim apaixona-me pensar na educação como um processo
divertido em que se estimulam o desenvolvimento de competências como o
auto-conhecimento, o pensamento crítico, a empatia, o trabalho de equipa, a
curiosidade, a criatividade e formas de expressão para promover o
desenvolvimento do nosso genuíno potencial, facilitando a descoberta de nós
mesmos e de como nos relacionamos com o outro e com o mundo.
Crianças e crianças adultas (educadores) precisam igualmente
de um pouco de “playfulness” na rotina escolar. Precisamos da vertente lúdica e
de uma conexão genuína com o espaço-escola, pelo que esta possibilidade de
participar e de ter maior autonomia na tomada de decisão, cria sinergias,
oportunidades para se desenvolverem e expressarem as suas identidades e
estimula o sentido de comunidade.
Mas “I'm
not young enough to know everything”, como dizia Oscar Wilde.
Qual é o impacto que
procuras ter?
Contribuir para a criação de uma sociedade que se defina
como planetária, desenvolvendo um trabalho conjunto para enfrentar os desafios
de criar e viver num mundo onde os Direitos Humanos são uma realidade universal
e onde a relação com o planeta e seus recursos é baseada no respeito e
sustentabilidade.
Diana Silva
Enfermeira, Facilitadora em Cidadania Global, Participação
das Crianças e Professora de Yoga e Meditação
30 anos